"Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu... A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu... A gente quer ter voz ativa no nosso destino mandar mas eis que chega a roda-viva e carrega o destino pra lá... Roda mundo, roda-gigante.. Roda-moinho, roda pião.. O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração... A gente vai contra a corrente até não poder resistir.. Na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir.. Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há.. Mas eis que chega a roda-viva e carrega a roseira pra lá.. A roda da saia, a mulata não quer mais rodar, não senhor... Não posso fazer serenata a roda de samba acabou... A gente toma a iniciativa viola na rua, a cantar.. Mas eis que chega a roda-viva e carrega a viola pra lá.. O samba, a viola, a roseira um dia a fogueira queimou... Foi tudo ilusão passageira que a brisa primeira levou... No peito a saudade cativa faz força pro tempo parar... Mas eis que chega a roda-viva e carrega a saudade pra lá..."
"Pai, afasta de mim esse cálice... Pai, afasta de mim esse cálice.. Pai, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue... Como beber dessa bebida amarga..?? Tragar a dor, engolir a labuta... Mesmo calada a boca, resta o peito.. Silêncio na cidade não se escuta... De que me vale ser filho da santa... Melhor seria ser filho da outra... Outra realidade menos morta.. Tanta mentira, tanta força bruta... Como é difícil acordar calado.. Se na calada da noite eu me dano.. Quero lançar um grito desumano.. Que é uma maneira de ser escutado... Esse silêncio todo me atordoa.. Atordoado eu permaneço atento.. Na arquibancada pra a qualquer momento.. Ver emergir o monstro da lagoa... De muito gorda a porca já não anda.. De muito usada a faca já não corta.. Como é difícil, pai, abrir a porta... Essa palavra presa na garganta... Esse pileque homérico no mundo... De que adianta ter boa vontade.. Mesmo calado o peito, resta a cuca.. Dos bêbados do centro da cidade.. Talvez o mundo não seja pequeno... Nem seja a vida um fato consumado... Quero inventar o meu próprio pecado.. Quero morrer do meu próprio veneno... Quero perder de vez tua cabeça... Minha cabeça perder teu juízo.. Quero cheirar fumaça de óleo diesel.. Me embriagar até que alguém me esqueça..."
Sim, essas músicas foram feitas na época da censura, na ditadura militar. Mas estava pensando.. Elas se encaixam direitinho na minha vida... Tô cansada de muita coisa.. Queria falar um monte de coisa pra um monte de gente.. mas.. eu me prejudicaria fazendo.. O jeito é por enquanto engolir, mas eu me conheço.. uma hora eu vou falar.. Tudo.. de uma vez e ninguém vai conseguir me calar...